Nos últimos tempos, ficou cada vez mais comum ver pessoas tratando seus animais de estimação como verdadeiros filhos. Essa mudança de comportamento não surgiu à toa. A relação entre humanos e pets ganhou contornos mais íntimos, e os animais deixaram de ser apenas companheiros para ocupar um lugar central nas famílias.
Em muitos lares, cães e gatos passaram a ser considerados filhos de quatro patas — com direito a festas de aniversário, carrinhos de passeio e até planos de saúde. Mas o que, de fato, significa tratar um animal como filho?
Relação do PET com os tutores
De acordo com especialistas, essa humanização do pet reflete uma resposta emocional à vida moderna, onde vínculos afetivos estão sendo ressignificados. A rotina corrida, o distanciamento das relações interpessoais e até a escolha de não ter filhos têm levado muitas pessoas a depositarem no animal um afeto intenso, parecido com o cuidado dedicado às crianças. O resultado disso é uma relação em que o tutor se vê no papel de pai ou mãe, assumindo funções como educar, proteger e garantir bem-estar constante.
O que dizer os estudos sobre o tema?
Um estudo publicado na revista “Humanity & Society” reforça essa percepção. Vários participantes que se classificam como “pais de pet” costumam usar expressões que lembram diretamente à criação de filhos humanos.
Cuidar da alimentação, levar ao veterinário, corrigir comportamentos, planejar atividades e manter uma rotina estruturada são atitudes recorrentes entre esses tutores. A forma de se relacionar, inclusive, passa por um vocabulário mais afetuoso, como se o pet fosse realmente uma criança.
Vale destacar que a motivação para essa conduta varia. No caso de pessoas sem filhos humanos, o animal muitas vezes representa uma espécie de preparação emocional para a parentalidade.
A vivência com o pet serve como um treinamento de afeto, responsabilidade e rotina. Já entre os ativistas da causa animal, há um ponto de vista diferente: muitos preferem evitar termos como “pai” ou “dono” e optam por “tutor” ou “companheiro”, numa tentativa de promover mais respeito à autonomia do animal e à sua condição de ser senciente.
Mas nem tudo são flores nessa relação. A prática de tratar o animal como um filho pode trazer riscos, especialmente quando ultrapassa certos limites biológicos e comportamentais. Do ponto de vista da evolução, algumas decisões humanas podem prejudicar a saúde dos pets. Um exemplo claro é a reprodução seletiva para características consideradas fofas — como focinhos achatados e olhos grandes —, muito presentes em raças como Pug e Persa. Essas alterações físicas despertam um instinto protetor nos humanos, mas geram sofrimento para os animais.
Quais são os riscos das modificações estéticas?
De acordo com uma análise publicada na “PNAS”, essas modificações estéticas trazem sérias complicações:
- Problemas respiratórios
- Dificuldades no parto
- Até distúrbios neurológicos.
Essas consequências são fruto de décadas de seleção artificial, que colocam em segundo plano o bem-estar dos animais em nome de uma aparência que agrada aos humanos.
Além das questões físicas, a humanização exagerada também pode afetar o comportamento do pet. Muitos tutores, ao tratarem seus animais como pessoas, acabam oferecendo alimentos inadequados, como doces ou comidas de fast food.
O resultado é o aumento de casos de obesidade, pancreatite e outras doenças digestivas. Também é comum interpretar mal certos comportamentos, como destruição de objetos ou xixi fora do lugar, sem entender que isso pode ser sinal de estresse, tédio ou ansiedade.
Outro erro frequente é ignorar atitudes problemáticas, como agressividade ou possessividade, por achar que são apenas “manha”.
A falta de correção pode criar um ambiente perigoso tanto para o próprio pet quanto para as pessoas e outros animais ao redor. Forçar interações sociais com desconhecidos ou incentivar uma agitação constante também contribui para o aumento da reatividade e do estresse.
Portanto, tratar um pet como filho envolve mais do que amor: exige responsabilidade e consciência de que, por mais parte da família que ele seja, ainda é um animal com necessidades e limites próprios. Cuidar com carinho não significa projetar nele o que esperamos de uma criança. Significa respeitar a natureza do animal, garantindo sua saúde física e emocional — sempre com afeto, mas sem esquecer do bom senso.
