A história que o Guia da Criança apresenta hoje parece que foi editada de uma cena de novela ou de um filme. Mas, não foi! A imagem de capa desta família mineira bastante feliz, talvez, nem estaria aqui. Mas, felizmente, está! E este retrato só foi possível graças à força, fé e o poder de nunca desistir dos seus sonhos, por mais que tudo parecia levar a crer que não era mais possível.

Foto: arquivo pessoal

Letícia, desde que casou com Rafael parou de tomar anticoncepcional e começou a observar seu corpo e ter controle dos períodos férteis.

“Decidimos engravidar em 2022 e, logo em Janeiro, na primeira tentativa conseguimos. Porém, a gestação durou apenas 8 semanas. Com isso, ficamos tristes, mas seguimos a vida com vários percalços no caminho”, explica. 

Ela conta que tudo mudou em outubro de 2022:

“Quando o primeiro bebê iria nascer, descobrimos a gravidez da Madalena. Essa segunda gestação não foi programada, porém muito deseja desde o início do ano de 2022”, revela.

Porém, o que era para ser um momento mágico na vida dos pais, a gestante passou a ter dias de preocupação.

“Assim que descobri a gravidez, um calo que tinha no meu pé esquerdo começou a inchar e eu passei a ter a dificuldade de andar. Eu andava torto. Procurei médicos desde o início para resolver, porém nenhum especialista que encontrei foi capaz de resolver minha situação devido a gravidez”, revela Letícia. 

O desafio de um diagnóstico

De acordo com Letícia, ela procurou dermatologista, cirurgião geral e ortopedista para tentar um diagnóstico e solucionar o problema. 

“Até que meu ginecologista indicou que eu procurasse uma podóloga. Depois que encontrei essa especialista, ela recomendou um produto. Comecei a passar. Porém, o calo começou a abrir e a doer”, explica a mãe da Madalena. 

Posteriormente, ela passou a ter dificuldades de locomoção e não conseguir curtir a gestação como sempre desejou. Entretanto, tudo mudou quando Letícia passou por todo o processo do pré-natal. 

“A cada ultrassom, eu sentia ainda mais mãe. E, entre a 10ª e 14ª semana, estava bastante ansiosa por dois motivos: descobrir alguma doença cromossômica e saber o sexo do bebê. O segundo cenário foi incrível porque ficamos muito felizes quando descobrimos que era uma menina”. 

Para completar, Letícia revelou que passava mal toda semana. No início, ela teve enjoo até os três meses. “E depois desse período uma dor no estômago péssima. Não podia comer nada a noite que eu passava mal. Eu emagreci 10 kilos na gestação”, descreve. 

Diagnóstico, enfim, foi concluído 

Letícia conviveu com incertezas até o 6º mês da sua gestação. Ainda com muita dor no calo e dificuldade de locomoção, ela, finalmente, encontrou um profissional que conseguiu analisar o caso dela e solucioná-lo. 

“Quando o profissional pegou o caso, tive que fazer uma biopsia para saber o que era aquela calo. Na biópsia constatou que era um sarcoma, um tumor maligno”, explica. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), o sarcoma é um tumor muito raro, que afeta os tecidos conjuntivos. Ou seja, aqueles que estão localizados entre a pele e os órgãos internos. Isso inclui músculos, tendões e gordura. (o Guia da Criança explica, ao final deste artigo, mais detalhes sobre o tumor). 

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Calo trouxe uma série de preocupações 

Após a descoberta do diagnóstico, Letícia precisou fazer a remoção do tumor. “Como o calo já estava em uma proporção gigante foi necessário a amputação. Entrei na sala de cirurgia para amputar o pé esquerdo todo. Porém foi necessário apenas a retirada de metade do pé. Preservando assim meu calcanhar”. Tudo isso com sete meses de gestação. 

Logo em seguida, a esposa de Rafael fez exames de imagem para verificar se tinha metástase (evolução do câncer no organismo) e “graças a Deus não havia”, revela. 

Ela explica que: “como é um câncer raro, cada caso é um caso. E apenas a amputação foi necessária. Hoje faço acompanhamento trienal”. 

Dificuldade de diagnóstico impressiona 

Durante a nossa entrevista, fiquei bastante surpreso com a demora do diagnóstico. Se for analisar o contexto da gestante, ela ficou do 3º ao 7º mês sem descobrir, de fato, o que era responsável por aquele calo. 

“Nenhum médico quis fazer absolutamente nada. E não foi falta de procura médica. Porque desde que começou a inchar eu procurei vários profissionais”, explica. 

“Nenhum momento eu revoltei ou fiquei triste”

“Logo com 2 meses de gestação, eu comecei a fazer terapia na qual foi tratada minha autoestima. Por isso, em nenhum momento eu me revoltei ou fiquei triste. Sei que sou muito mais do que uma pessoa amputada. Tenho muita bagagem pra me orgulhar”, conta emocionada. 

Além da terapia, Letícia revela que sua fé em Deus foi determinante para superar estes desafios. 

“A terapia me ajudou a ter controle emocional, porém o espiritual tinha que está forte a todo momento. Eu não perdi a fé nunca. Nesse período todo, eu só queria viver e deixei tudo nas mãos de Deus. E, quando eu conto, passa tudo pela cabeça e até eu mesma paro pra pensar como consegui passar por tudo. Eu tenho CERTEZA que foi Deus em todo momento que me fortaleceu, usando a Madalena em todos os momentos. Eu me apegava a ela, só queria ver o seu rostinho, educar, criar, catequizar. Então, só pensava em o quanto eu precisava ser forte pra conseguir ser isso tudo a ela”

Em paralelo, ela destaca o quanto o apoio da família e dos amigos foi determinante neste momento. 

“O apoio da minha família foi fundamental. Eles me sustentaram. Eles brincam que eu que dei força pra eles. Mas eles do meu lado e me apoiando em tudo me deixou forte, pois sabia que podia contar com eles. Meu marido segurou a minha mão e suportou tudo muito de perto, me acompanhou em todas as consultas, fazia todos os afazeres domésticos e estava sempre comigo rezando e intercedendo. Ter a família de pertinho é um privilégio que eu tive e agradeço a Deus por isso. Não só da família de sangue mas também muitos amigos que estavam sempre intercedendo e torcendo por mim. Isso me deu um gás, a oração nos dá uma força tremenda”, conta. 

A fé da gestante foi recompensada 

Depois da amputação e retorno dos exames, Letícia teve 45 dias para aproveitar a gestação e deixar tudo organizado pra chegada da “Madah”, como sua filha é carinhosamente apelida. “Eu ganheeeei tanta coisa. Tanta roupa. Tanta fralda. Deus é incrível.”, conta bastante animada. 

O nascimento de Madah 

Após a amputação, Letícia revelou que ficou pulando de um pé só, uma vez que não podia apoiar o pé amputado no chão. Além disso, a barriga, segundo ela, pesava muito e a posição na cama era bastante incômoda. Porém, mesmo diante de tantos percalços, Madalena veio ao mundo no dia 13 de junho, às 16h51 e por meio de um parto normal, com 2,920 kg. “Deus é maravilhoso e já sabia que, com uma cesariana, a minha locomoção ia ser pior. Com o normal, a minha recuperação foi muito rápida e já consegui sair do hospital pulando novamente”, lembra.

Vaquinha online ajudou no sonho da prótese

Após a chegada de sua filha, Letícia ainda teve que lidar com outro desafio: pagar a prótese, que nada mais é que um pesinho de silicone. 

“Porém, como ele é importado, o valor é bem alto (R$ 11 mil). Fiz uma vaquinha online, expus toda minha história bem resumida e deixei o pix. Minha expectativa era conseguir pelo menos uma parte do valor. Porém, fiquei surpresa, pois em apenas 4 horas eu já tinha conseguido a quantia toda que precisava”, revela. 

Foto: arquivo pessoal

Planos para segundo filho? 

“Então, quero muito ter o segundo filho, pois é lindo ver a evolução de um serzinho que saiu de você e como é mágico essa fase da vida. Porém, ainda tenho um bloqueio da gestação, que, tenho certeza que por ter passado por tudo isso me deixa um pouco receosa. Até costumo brincar que pari e criar não é o problema, o problema é a gestação kkkk. Mas sei que trabalhado isso na terapia será solucionado kkkkkk”.

Perguntas frequentes sobre sarcoma 

O que é câncer de sarcoma? 

É um tumor maligno raro. Ele pode aparecer em qualquer região do organismo. Contudo, é mais comum nas células que são conhecidas como as partes moles do corpo, entre elas: músculos, gordura, tendões, ligamentos, vasos sanguíneos e nervos periféricos. De maneira geral, o diagnóstico mais frequente é no braço ou perna. 

Crianças e adultos podem ser diagnosticados com o tumor. No segundo grupo, os pacientes correspondem a aproximadamente 1% dos casos. 

Qual médico faz o tratamento do sarcoma? 

É o cirurgião oncológico. A propósito, ele é essencial no tratamento de qualquer tipo de câncer. 

O que causa câncer de sarcoma?

É um câncer multifatorial, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Ou seja, o surgimento da doença pode variar de paciente para paciente e conforme a região que ele foi encontrado. Porém, alguns fatores de risco são mais comuns, como: exposição intensa à radiação ionizante, vírus SKHV e síndromes hereditárias. 

Quais são os sintomas do câncer de sarcoma? 

Aumento de nódulo ou caroço em qualquer região do corpo. Dores abdominais que se intensificam ao longo do tempo, além de presença de sangue nas fezes ou vômitos e fezes escuras ou negras. 

O Sarcoma tem cura? 

Sim. Nos estágios primários, é aplicada a remoção total da lesão, o que impede o crescimento do câncer. Porém, em casos em que ele já afetou outras regiões do corpo (metástase), o tratamento é focado para administrar a doença e evitar os sintomas associados ao tumor. Nessas situações, o especialista pode recomendar a quimioterapia. 

Como prevenir o sarcoma? 

É importante destacar que não há uma série de medidas recomendadas para impedir o sarcoma em si. Porém, alguns hábitos saudáveis, como uma boa alimentação e exercícios físicos, contribuem para o fortalecimento do sistema imunológico. 

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Escrito por

Matheus Azevedo

Matheus Azevedo é jornalista e escreve para sites como Guia do Gestor e Garagem360. Busca informações de qualidade para que o leitor tenha acesso aos melhores conteúdos sobre o desenvolvimento infantil.

Moro em São Paulo há mais de três anos, apaixonado pelo estado e procuro pelas melhores atrações para você curtir com o seu filho.