Meu filho foi agredido na escola, o que devo fazer?

Receber a notícia de que o seu filho foi agredido na escola é algo que nenhum pai ou mãe está preparado para enfrentar. É como se o chão se abrisse. O coração dispara, a cabeça fica cheia de perguntas, e o primeiro impulso é o de correr até a escola e tirar satisfações.

Mas antes de qualquer reação, é importante respirar fundo. Sabemos que é difícil,  estamos falando do seu filho, do bem mais precioso que você tem. No entanto, agir com sabedoria nesse momento é fundamental para proteger a criança, ajudá-la a superar o trauma e ainda garantir que esse tipo de situação não volte a acontecer.

Neste artigo, vamos conversar sobre como agir quando o seu filho é agredido na escola. Vamos te guiar por cada passo: desde como conversar com a criança, entender o que aconteceu, até como lidar com a escola e, se necessário, com a Justiça. Tudo com empatia, acolhimento e foco na proteção emocional e física do seu filho.

Meu filho foi agredido na escola, o que devo fazer?

1. Ouça o seu filho com atenção e acolhimento

O primeiro passo é escutar. Parece simples, mas na prática não é tão fácil assim. A gente fica tão tomado pela emoção que, às vezes, nem deixa a criança contar o que realmente aconteceu. Por isso, a primeira atitude é sentar com calma, olhar nos olhos do seu filho e dizer:

“Filho, me conta o que aconteceu. Eu estou aqui por você. Ninguém vai te julgar, eu só quero entender e te proteger.”

Deixe que ele fale no tempo dele. Faça perguntas abertas, como: O que aconteceu na escola hoje?, você quer me contar se algo te deixou triste?, foi alguém que te empurrou, bateu ou fez algo que você não gostou?

Evite pressionar seu filho. Algumas crianças se sentem envergonhadas ou têm medo de contar, especialmente se as agressões são recorrentes. Pode ser que seu filho tenha sofrido bullying, tenha sido empurrado no recreio, levado um tapa ou até sofrido humilhações verbais. Seja qual for a situação, acolha com carinho.

2. Identifique o tipo de agressão

Foto: Canva

A palavra “agressão” pode englobar muitas situações. Por isso, entender exatamente o que aconteceu é essencial. Alguns exemplos:

• Agressão física: empurrões, socos, tapas, chutes, puxões de cabelo.

• Agressão verbal: xingamentos, ofensas, apelidos maldosos, gritos humilhantes.

• Agressão psicológica: exclusão, intimidação, ameaças.

• Cyberbullying: ofensas feitas por celular ou redes sociais, mesmo fora do ambiente escolar.

Saber que tipo de agressão ocorreu ajuda a tomar a atitude mais apropriada. Uma briga pontual entre colegas tem um peso diferente de uma agressão repetida, sistemática — que configura bullying.

3. Verifique se há marcas físicas ou sinais emocionais

Se houve agressão física, é importante verificar se há machucados, hematomas ou qualquer sinal visível. Tire fotos, anote a data, e — se necessário — leve seu filho a um médico para avaliar. Ter esse registro médico pode ser essencial caso seja preciso acionar a escola ou as autoridades.

Nos casos em que não há marcas no corpo, fique atento aos sinais emocionais. Seu filho está com medo de ir à escola?, tem tido pesadelos ou insônia?, apresenta queda no rendimento escolar?, chora com facilidade, fica mais calado ou irritado?

Esses sinais podem indicar que a agressão deixou marcas internas e elas, muitas vezes, são as mais difíceis de curar.

4. Comunique a escola imediatamente

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Assim que você tiver clareza do que aconteceu, entre em contato com a escola. Marque uma reunião com a coordenação pedagógica ou com a direção. E aqui é importante frisar: mantenha a calma, por mais difícil que seja. Uma postura firme, mas respeitosa, costuma ser mais eficaz.

Leve os registros que você tiver — relatos do seu filho, fotos, boletim médico se houver. Relate os fatos com clareza, sem acusações precipitadas, mas deixando claro que espera providências e proteção para seu filho.

Algumas perguntas que você pode fazer à escola:

• A escola tem conhecimento do que aconteceu?

• Que medidas serão tomadas para proteger meu filho?

• O agressor será orientado, punido ou acompanhado?

• Como a escola lida com casos de agressão ou bullying?

• Vocês possuem câmeras de segurança? É possível verificar as imagens?

Peça um retorno formal da escola por escrito, relatando o que foi discutido e quais providências serão tomadas.

5. E se a escola não fizer nada?

Infelizmente, há casos em que a escola minimiza a agressão, tenta abafar o caso ou até culpa a vítima. Isso é inaceitável.

Se a escola se omitir:

1. Registre uma reclamação formal por escrito, de preferência por e-mail ou protocolo com cópia.

2. Procure a Secretaria de Educação do seu município ou estado.

3. Considere fazer um boletim de ocorrência na delegacia (em muitos estados há delegacias especializadas em crimes contra a criança e o adolescente).

4. Acione o Conselho Tutelar, se sentir que a integridade da criança está sendo colocada em risco.

Lembre-se: você tem o direito (e o dever) de proteger seu filho. E a escola tem a obrigação legal de garantir um ambiente seguro para todos os alunos.

6. Avalie a necessidade de mudar de turma ou até de escola

Essa é uma decisão difícil e pessoal. Em alguns casos, pode ser que, após as medidas corretivas, seu filho se sinta bem e seguro na mesma escola. Mas em outros, a escola não dá o suporte necessário, ou a criança passa a sofrer represálias.

Se a situação se tornar insustentável, considere mudar seu filho de turma, se o agressor estiver na mesma. Caso não resolva, mudar de escola, buscando um ambiente mais acolhedor e com políticas ativas contra bullying.

Lembre-se que mais importante que “não mexer na rotina” é garantir que seu filho tenha um ambiente saudável para se desenvolver.

7. Ajude seu filho a processar o trauma

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A agressão deixa marcas. Mesmo que a situação seja resolvida, o emocional da criança precisa ser cuidado com muito carinho.

Converse diariamente com seu filho. Dê espaço para que ele se expresse.

Diga frases como:

• “Você não está sozinho.”
• “Você não merecia passar por isso.”
• “Eu estou aqui e vou te proteger.”

Evite frases como:

• “Você também deve ter provocado.”
• “Isso é coisa de criança.”
• “Na minha época era assim mesmo.”

Essas frases apenas reforçam o sentimento de culpa e abandono. Ao contrário, valorize a coragem do seu filho em contar, e ajude-o a reconstruir sua autoestima.

Se necessário, procure apoio psicológico. Um psicólogo infantil pode ser essencial nesse processo de recuperação.

8. E se o meu filho foi o agressor?

Às vezes, o papel se inverte. Pode ser que seu filho seja o agressor, e ouvir isso da escola é, sem dúvida, um baque. Ninguém quer acreditar que seu filho machucou outra criança, mas é importante encarar a situação com maturidade.

Não negue de imediato. Escute a escola, converse com seu filho e tente entender o que motivou o comportamento agressivo. Pode ser um pedido de ajuda, uma forma de chamar atenção ou até algo que ele vivencia em casa ou na própria escola.

Seu papel aqui é:

• Reconhecer o erro sem rotular (“Você errou” e não “Você é um agressor”).

• Ensinar empatia e respeito.

• Buscar ajuda psicológica, se necessário.

• Colaborar com a escola para reparar os danos e evitar que o comportamento se repita.

9. Conheça os seus direitos e os direitos da criança

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante à criança o direito de estudar em um ambiente livre de violência. A escola tem o dever de zelar pela integridade física e emocional dos alunos.

Além disso, há legislações que tratam do bullying, que pode, inclusive, configurar crime, dependendo da gravidade. A Lei nº 13.185/2015 institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying) e define claramente o que é esse tipo de violência.

Se for o caso, você pode procurar:

• Defensoria Pública

• Delegacia da Criança e do Adolescente

• Advogado especializado

Mas lembre-se: a Justiça deve ser acionada quando os caminhos do diálogo e da mediação falharem ou quando a gravidade exigir uma resposta mais firme.

10. Ensine seu filho a se defender de forma não violenta

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A criança agredida muitas vezes se sente impotente. Ensine seu filho que ele tem direito de se defender, não com violência, mas com autoconfiança e atitude. 

Ensine a criança a dizer “não” com firmeza quando algo não o agradar. Incentive também a contar para um adulto sempre que algo ruim acontecer. Além disso, ensine para ele que pedir ajuda não é fraqueza, é coragem.

Outro ponto que ajuda muito é promover atividades que fortaleçam a autoestima: esportes, artes, leitura, grupos sociais.

11. Crie uma rede de apoio

Você não precisa enfrentar isso sozinho. Converse com outros pais, procure grupos de apoio, participe da comunidade escolar. Juntos, vocês podem promover mudanças mais efetivas na cultura da escola.

Se possível, envolva também outros profissionais da escola: psicólogos, orientadores, professores. Quanto mais pessoas estiverem comprometidas com o bem-estar das crianças, maior a chance de construir um ambiente escolar saudável.

Ter um filho agredido na escola é uma das experiências mais dolorosas que um pai ou uma mãe pode enfrentar. Mas você não está sozinho. Existe um caminho a ser seguido, e com informação, apoio e atitude, é possível proteger seu filho, ajudá-lo a se recuperar e ainda transformar essa dor em aprendizado.

Lembre-se: seu filho precisa mais de você do que nunca. Seja o porto seguro, a voz firme que o defende, e o abraço que o reconforta. E, acima de tudo, não deixe que o medo ou a omissão vençam.

A escola tem um papel, sim. A sociedade também. Mas a maior força está no amor e na presença que você oferece ao seu filho todos os dias.

Se precisar, procure ajuda. Converse com outros pais, com especialistas, com a escola. E se quiser compartilhar sua história, saiba que muitas famílias passam por isso e se sentem fortalecidas quando percebem que não estão sozinhas.

Juntos, podemos tornar o ambiente escolar mais seguro, acolhedor e justo para todas as crianças.