Neste guia, vamos conversar sobre um tema muito importante para pais, professores e cuidadores: como acalmar uma crise de autismo na escola?
Vamos entender o que são essas crises, por que elas acontecem, como reconhecê-las e, principalmente, o que fazer na hora para ajudar a criança a se sentir mais segura e acolhida.
As dicas que você vai encontrar aqui são práticas, empáticas e pensadas para quem convive com crianças autistas no ambiente escolar. Afinal, toda criança merece se sentir compreendida.
O que é uma crise de autismo?
Foto: Canva
Para quem convive com uma criança autista, entender o que é uma crise pode mudar completamente a forma de lidar com ela. Uma crise não é um comportamento intencional. É uma reação que a criança não consegue controlar, resultado de uma sobrecarga — seja sensorial, emocional, física ou social.
Imagine estar em um lugar cheio de luzes piscando, sons altos e pessoas falando ao mesmo tempo. Agora imagine que você não consegue filtrar nada disso. É isso que muitos autistas sentem.
As informações chegam todas de uma vez e, muitas vezes, não há como processar tudo. A resposta pode ser um colapso emocional ou físico, que é o que chamamos de crise.
Leia também:
- O que um diretor de escola não pode fazer?
- O que colocar no convite para reunião de pais?
- Como combater o racismo na escola?
Como a crise se manifesta?
Cada criança é única, mas algumas manifestações comuns incluem:
- Gritos
- Choro intenso
- Agressividade (contra si mesma ou os outros)
- Tentativas de fuga
- Se jogar no chão
- Bater a cabeça
- Movimentos repetitivos intensificados (como balançar o corpo ou bater as mãos)
Esses comportamentos não são uma tentativa de chamar atenção. São, na verdade, um pedido de socorro.
Por que as crises acontecem com mais frequência na escola?
Foto: Canva
A escola é um ambiente estruturado para o coletivo. Mas o cérebro autista funciona de maneira muito particular. O que é simples para uma criança neurotípica pode ser um desafio enorme para uma criança com TEA.
Estímulos sensoriais intensos
O barulho das conversas, o som da campainha, o cheiro da merenda, o toque de colegas, a luz fluorescente… tudo isso, junto, pode sobrecarregar a criança rapidamente.
Quebra de rotina
Crianças com autismo costumam se sentir mais seguras com rotinas previsíveis. Mudanças inesperadas no horário, substituições de professores ou eventos fora do comum podem gerar confusão e medo.
Exigências sociais
Brincar em grupo, fazer amigos, entender regras sociais — tudo isso exige um esforço enorme de uma criança com TEA. Se ela não tem apoio, isso vira um fator de estresse constante.
Cobrança acadêmica
Muitas vezes, o conteúdo escolar não está adaptado à realidade da criança. A pressão para acompanhar a turma pode gerar frustração, insegurança e, claro, crises.
Como reconhecer os sinais de que uma crise está chegando?
Foto: Canva
Saber identificar os sinais prévios é essencial para prevenir que a crise aconteça ou para agir mais rápido e com mais eficiência.
Mudança no olhar
A criança pode começar a olhar fixamente para um ponto ou evitar completamente o contato visual.
Aumento de comportamentos repetitivos
Se ela já costuma balançar o corpo ou bater palmas, esses movimentos podem se intensificar.
Agitação motora
Pode começar a andar de um lado para o outro, correr sem direção ou fazer movimentos desordenados com o corpo.
Irritabilidade repentina
Às vezes, basta uma mudança pequena para a criança se mostrar mais sensível, como reclamar de barulhos que antes não incomodavam.
Tentativas de se isolar
Se a criança tenta fugir da sala, se esconder ou evita contato com colegas e professores, fique atento.
Como acalmar uma crise de autismo na escola?
Foto: Canva
Esse é o ponto-chave: como acalmar uma criança com crise de autismo na escola? Não existe fórmula mágica, mas há sim estratégias que funcionam na maioria dos casos, sempre respeitando o tempo e o limite da criança.
Manter a calma é o primeiro passo
A crise já é difícil para a criança. Se o adulto também se desespera, tudo piora. Respire fundo, fale com voz calma e evite movimentos bruscos.
Afastar estímulos sensoriais
Se possível, leve a criança para um ambiente mais silencioso e com pouca luz. Isso já ajuda a reduzir a sobrecarga.
Fale pouco e com frases curtas
Durante a crise, a criança pode ter dificuldade de processar linguagem. Frases simples como “Você está seguro”, “Estou com você”, “Vai passar”, podem ajudar.
Evite toque físico sem aviso
Mesmo que sua intenção seja acalmar, o toque pode intensificar a crise se a criança estiver hipersensível. Pergunte antes: “Posso segurar sua mão?” ou “Quer um abraço?”.
Permita que ela se regule no tempo dela
Algumas crianças precisam de alguns minutos sozinhas para se acalmar. Outras precisam da presença de um adulto calmo. Observe e respeite o que funciona para ela.
Quais estratégias ajudam a prevenir crises futuras?
Mais do que apagar incêndios, o ideal é evitar que eles comecem. A prevenção é uma das ferramentas mais poderosas quando falamos de crianças com TEA na escola.
Ter um plano individualizado
Cada criança é única. Ter um Plano de Ensino Individualizado (PEI) com as adaptações necessárias pode evitar muitas situações estressantes.
Criar uma rotina visual
Quadros com imagens da rotina diária ajudam a criança a saber o que vai acontecer e reduzem a ansiedade.
Ter um “cantinho da calma”
Um espaço acolhedor, com almofadas, fones abafadores, brinquedos sensoriais e iluminação suave, pode ser um refúgio importante nos momentos de sobrecarga.
Usar sinalizadores visuais
Plaquinhas com cores ou símbolos para indicar momentos de silêncio, troca de atividades ou aviso de mudanças ajudam na compreensão do que está por vir.
Desenvolver um código de comunicação
Para crianças não verbais ou com dificuldades de linguagem, é essencial ter recursos como pranchas de comunicação ou gestos que ajudem a expressar emoções.
O que os professores devem saber sobre o autismo?
Foto: Canva
O professor é uma peça-chave no suporte à criança autista. Por isso, informação é fundamental.
Não é “frescura” nem “falta de limites”
Esse é um mito que precisa ser combatido todos os dias. A crise autista é real e exige empatia e conhecimento, não julgamento.
Cada aluno é único
Não existe uma “receita” que funcione para todos. É preciso observar, conversar com a família, trocar com a equipe pedagógica e construir soluções conjuntas.
O afeto transforma
Mesmo diante de uma crise, o olhar amoroso do professor pode ser o fator que muda tudo. Crianças com TEA percebem quando são acolhidas e respeitadas.
Como a escola pode se preparar melhor para acolher essas crianças?
Incluir uma criança autista na escola não é apenas colocá-la na sala de aula. É garantir que ela tenha acesso real à aprendizagem e ao bem-estar.
- Formação continuada para a equipe: Capacitações sobre TEA, manejo de crise, comunicação alternativa e inclusão são indispensáveis.
- Parceria com a família: A família é quem mais conhece a criança. Ter um canal de diálogo aberto faz toda a diferença.
- Apoio de profissionais especializados: Psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e AEE (Atendimento Educacional Especializado) são aliados valiosos nesse processo.
- Flexibilização de conteúdos e avaliações: Adaptar a forma de ensinar e avaliar é uma forma de garantir que a criança tenha sucesso sem se sentir frustrada.
O que fazer depois da crise?
Foto: Canva
O momento da crise já passou, mas o cuidado continua. A forma como lidamos com o pós-crise pode ajudar a criança a entender seus sentimentos e a se sentir segura para o futuro.
Validar o que ela sentiu
Com carinho, diga que você entendeu que foi difícil, que está tudo bem agora, e que ela não está sozinha.
Evitar broncas ou punições
A criança não teve culpa. Repreendê-la só vai gerar mais medo e insegurança.
Anotar os gatilhos
Registrar o que aconteceu antes, durante e depois da crise pode ajudar a identificar padrões e prevenir novas ocorrências.
Reestabelecer a rotina
Voltar gradualmente à rotina mostra para a criança que tudo ficou bem e que ela pode confiar novamente no ambiente.
Como conversar com os colegas sobre a criança com TEA?
A inclusão também passa pelo entendimento dos colegas de sala. Mas é preciso cuidado para não expor a criança.
Explicações adequadas à idade
Fale sobre as diferenças de forma lúdica e positiva, como: “Cada um de nós tem jeitos diferentes de aprender e sentir o mundo”.
Valorize o respeito e a empatia
Ensine que acolher é um gesto bonito. Que todos têm algo a ensinar e a aprender.
Acima de tudo, o que uma criança com autismo em crise precisa é de compreensão e segurança. Ela não quer causar problemas — ela quer se sentir segura em um mundo que, às vezes, parece caótico.
Educar é um ato de amor. Incluir é um ato de justiça. E quando unimos os dois, conseguimos transformar não só a vida daquela criança, mas também a cultura da escola e da sociedade como um todo.
Leia também: Posso colocar meu filho na escola com 5 anos?
